Motor T200 com sistema híbrido 12V apresenta diferenças de manutenção em relação ao modelo convencional?
texto Vitor Lima fotos Revista O Mecânico / Divulgação Stellantis
O Pulse, SUV compacto da Fiat chegou oficialmente ao Brasil em 2021. Com 4 anos no mercado nacional, o Fiat Pulse alcançou mais de 150 mil unidades vendidas.
Mecânico do Senai explica o sistema híbrido leve do Fiat Pulse | Raio X completo! VEJA O VÍDEO!
Curiosamente, a revista O Mecânico já analisou o Fiat Pulse em 2022, na edição 334. Na ocasião, o modelo era uma grande novidade ao mercado brasileiro e utilizava o motor turbo 200, ou T200 conforme abreviação.
Mas, com o passar dos anos, a linha recebeu as versões Abarth com motor 1.3 turbo, o famoso T270, trazendo mais esportividade para a linha. Este motor está presente em outros veículos do grupo Stellantis, como Jeep Renegade, Fiat Toro, entre outros.
Porém, a versão analisada nesta edição utiliza o motor T200 com sistema híbrido, ou T200 Hybrid, como é indicado pela Fiat. Em questão de potência e torque, nada muda, o T200 Hybrid é capaz de fornecer 130 cv de potência e 20,4 kgfm de torque, mesmos dados do motor turbo 200 sem o sistema híbrido. Então, o que mudou de fato da versão híbrida para convencional?
Para responder essa perguntar, a Revista O Mecânico convidou Maurício Marcelino, professor do SENAI e, também, proprietário da oficina Auto Mecânica Louricar LM, para analisar as condições de manutenção do Fiat Pulse Impetus Hybrid que tem preço a partir R$ 144.990.
Por baixo do capô
Marcelino comenta que em sua oficina ainda não chegaram veículos com motor T200 para manutenção, mas conhece amigos de profissão que já receberam modelos com essa motorização.
O mecânico elogiou o acesso e localização de alguns componentes, como o turbocompressor (1) que fica na parte frontal do cofre e o começo do sistema de exaustão.
Outro componente elogiado por Marcelino foi o acesso à correia de acessórios. “Aqui você vê a diferença dos motores modernos, antigamente não era possível acessar a região da correia pela parte de cima do cofre”.
Para o sistema de sincronismo, o motor turbo T200 usa corrente de comando. O mecânico comentou sobre a durabilidade desse sistema. “A corrente de distribuição tem vida útil muito longa, praticamente até realizar alguma retífica no motor. Nesse quesito, o consumidor consegue pôr na balança o que deseja, se é um carro que tenha maior durabilidade no sistema de sincronismo com a utilização de corrente, ou um carro com correia dentada, que há necessidade da manutenção, substituição do componente periodicamente”, informa Marcelino.
O reservatório do líquido de arrefecimento (2) fica ao lado esquerdo do veículo, sem nenhuma dificuldade ao mecânico. Para substituição do fluido o prazo é de 240 mil quilômetros ou 10 anos, assim como o período recomendado para o motor T200 sem o sistema híbrido. O fluido homologado é o Mopar Coolant OAT 50, que atende à norma Fiat MS.90032- Parte B.
“Quando escutamos um prazo de manutenção tão longo, a primeira coisa que vem à cabeça é a tecnologia dos materiais. Antigamente, o prazo era menor para substituição do líquido de arrefecimento. Alguns profissionais, infelizmente não colocavam o produto correto ou similar e, ao invés de proteger o sistema ele prejudicava. Creio que seja por isso que, atualmente, as montadoras estão utilizando produtos com maior durabilidade, para evitarem esse problema”, explica o mecânico.
Outro sistema que necessita de fluidos para o seu funcionamento é de frenagem. O fluido de freio (3) homologado pela Fiat é o Mopar DOT 4S que deve ser substituído a cada 24 meses ou 40 mil km, o que ocorrer primeiro. A capacidade do sistema é de 0,6 litro.
Para o lubrificante de motor (4), também não há recomendação diferente entre o motor T200 convencional e o T200 híbrido. O produto homologado é o Mopar MaxPro Synthetic 0W-30 com especificação ACEA C2 e norma FCA 9.55535-GSI. A recomendação é que o óleo seja substituído a cada 10 mil km ou 12 meses, o que ocorrer primeiro.
A bateria principal de 12V do Fiat Pulse Hybrid é do tipo EFB com 68 Ah (5). “O cuidado que precisamos ter com essa bateria é no momento da partida auxiliar. Essa bateria tem um módulo no terminal negativo e, dependendo de como é realizada a partida auxiliar, pode danificar esse componente”, alerta Marcelino.
Undercar
Com o veículo no elevador, a parte de baixo é exposta, o que facilita na visualização e acesso dos componentes por parte do mecânico. Para serviços que são de rotina da oficina, o profissional não terá nenhum problema, como a substituição do filtro de óleo do motor (6), que deve ser realizada a cada 10 mil km ou 12 meses, mesmo período da troca de óleo do motor.
Marcelino comenta que apesar de ser um veículo com a tecnologia híbrida, o compressor do ar-condicionado (7) não é elétrico, e sim, convencional, acionado pela correia de acessórios. “Ele é movimentado por correia, não é um sistema elétrico. É um compressor convencional”.
A transmissão do tipo CVT é a mesma utilizada no modelo sem o sistema híbrido, com os mesmos periféricos como o trocador de calor do câmbio (8). De acordo com a Fiat, não há período recomendado para substituição do óleo da caixa de câmbio, assim como indicado no Fiat Pulse com motor T200 de 2022, segundo a montadora, o fluido é ‘For Life’. Outro componente de fácil acesso é o coxim do câmbio (9).
Dentre todos os itens que compõe o sistema de suspensão McPherson na dianteira, o mecânico comentou sobre dois componentes. O primeiro foi sobre as bieletas (10), que não são de polímero plástico, conforme alguns projetos atualmente na indústria automotiva. “Tanto a bieleta de metal, como a de polímero plástico, tem sua vida útil, possuem desgaste. Referente ao aftermarket, eu ainda não encontrei o componente em polímero plástico para substituir, apenas a de metal”, informa o mecânico.
Os pivôs de suspensão (11) continuam rebitados, o que exige a troca da bandeja de suspensão em caso de substituição do componente. “Para manutenção, esse sistema de rebite é um pouco dificultoso. Eu acredito que, quando apresentar desgaste no pivô, a ideia é justamente para trocar a bandeja inteira”, comenta Marcelino.
Partindo para o eixo traseiro do Fiat Pulse, a localização do filtro de combustível (12) continua a mesma, assim como a indicação de substituição do componente que deve ser realizada a cada 10 mil km ou 12 meses.
A suspensão traseira adota o sistema de eixo de torção com mola helicoidal e amortecedor tubular (13). “Em alguns veículos, para soltar a fixação superior do amortecedor você consegue sem acessar o porta-malas, nesse caso, terá que ser feito retirando o acabamento do porta-malas para ter acesso”, analisa o profissional.
O que realmente mudou no modelo híbrido?
A disposição dos componentes é a mesma, assim como os prazos de substituição, recomendações, porém, o que de fato muda no modelo híbrido é o alternador utilizado (14).
O sistema BSG (Belt-integrated Starter Generator) é conectado mecanicamente ao motor T200 e recebe alimentação de uma bateria auxiliar de íons de lítio (12V) que fica localizada abaixo do banco do motorista (15).
Esse sistema além de substituir o alternador, também substitui o motor de partida, ou seja, além de ser responsável por recarregar a bateria principal de 12V do veículo, o sistema realiza a partida do motor. No modo e-Regen, o sistema BSG fornece uma corrente nominal de 200 A para o motor T200 Hybrid.
“Ele é considerado híbrido por ter uma máquina elétrica (BSG), que funcionará em determinadas situações. Mas, o que necessita ficar claro é que, quem manda no veículo é a bateria de 12V. Por mais que um veículo híbrido tenha uma bateria de 18 ou 30 kWh, quem comanda o veículo é a bateria principal de 12V”, explica Marcelino que acrescenta sobre o funcionamento do sistema. “A bateria principal de 12V que irá acionar o BSG para dar a partida no motor, após o funcionamento do motor, o sistema BSG irá carregar a bateria de 12V principal, além de recarregar a bateria auxiliar de 12V que fica localizada dentro do habitáculo do veículo”, conclui.
De acordo com o mecânico, esse sistema pode vir a se popularizar entre as montadoras pela praticidade de aplicação. “Eu acredito que é uma tendência. Por conta das necessidades de lançarem veículos eletrificados, as montadoras têm adotado sistema diferentes. A Fiat utilizou esse sistema híbrido que, é considerado menor que um híbrido leve, porque esse alternador tem uma carga muito pequena. Para se ter uma ideia, não é possível tracionar o veículo só com esse sistema BSG, diferente de outras soluções híbridas, esse modelo é tracionado apenas pelo motor a combustão”, explica.
O profissional conclui sobre a funcionalidade deste sistema BSG no Fiat Pulse Hybrid. “Ele vai funcionar no sistema Stop-Start, no momento que parar o veículo e desligar o motor, o sistema utilizará a bateria auxiliar de lítio para fornecer energia ao sistema e religar o motor. Também será útil para os momentos saída do veículo parado, neste momento o sistema dará um ‘up’ a mais. Todo o veículo a combustão tem como característica poluir mais no momento que está saindo da inércia com o veículo, com o sistema que auxilia neste momento de saída da inércia, ajuda a poluir menos. Além de ajudar nas retomadas. Não posso dizer que ele dará mais torque ao veículo, pois, diferente dos outros veículos híbridos, não é possível somar o torque desse sistema BSG com o do motor a combustão e ter um torque combinado. Mas, acredito que é um sistema que chegou para ficar”, conclui Marcelino.
Ao final da análise, o mecânico elogiou o Fiat Pulse, tanto na manutenção em geral quanto na construção do modelo. “Eu gostei bastante do carro, assim como no quesito de manutenção. Tem pontos que darão um pouco mais de trabalho, como no sistema de suspensão, mas é uma manutenção comum nos veículos. Importante é que, neste sistema híbrido sejam seguidas as recomendações do fabricante. Porém, mesmo que se trate de um veículo eletrificado, esse sistema não trabalha com alta tensão, a tensão de trabalho é de 12V”, informa Marcelino que acrescenta sobre não precisar de certificações em veículos eletrificados para realizar a manutenção no veículo, de acordo com o profissional “apenas habilitação e conhecimento do sistema”.
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