As características peculiares da frota brasileira, o crescimento e o envelhecimento do parque e a digitalização foram alguns dos temas abordados
No final de novembro, em São Paulo (SP), a GiPA celebrou os seus 25 anos de presença no Brasil e realizou o Simpósio GiPA LATAM Aftermarket para clientes e parceiros da região, com a sua equipe da América Latina. Entre os destaques, no Brasil as grandes oportunidades para o mercado de reposição automotiva são o crescimento e diversificação do parque, o envelhecimento da frota e o aumento do número médio de visitas em oficinas e concessionárias.

Na abertura, Almudena Benedito, CEO da GiPA, apresentou o painel ‘Tendências e oportunidades globais no aftermarket automotivo’. “São 25 anos de inteligência de mercado pós-venda automotiva e lançamos o primeiro Simpósio LATAM porque os clientes precisam cada vez mais de manutenção nos carros. O valor de mercado de pós-venda no mundo é de quase 1 trilhão (dólar), maior do que o segmento de telefones. A América Latina é o 4º mercado mundial”, afirmou.

Globalmente, ela expôs que a frota mundial é entre 1,360 bilhões e 1,640 bilhões de veículos e que também, mundialmente, a frota está envelhecendo. “Há muitas possibilidades de crescimento para o pós-venda. A frota envelhece, mas também tem que se preparar para atender os elétricos, propor diferentes peças para diferentes veículos”, defendeu.
O aftermarket no Brasil
Na sequência, no painel ‘Desafios e oportunidades para o Brasil: como crescer em um mercado em constante evolução?’, Laurent Guerinaud, diretor da GiPA Brasil, mostrou o comportamento da frota nacional, a diversidade de marcas –
até 2024 havia no País quatro marcas chinesas e dez novas entraram neste ano – e uma característica peculiar do Brasi: entre quatro carros circulando, três são flex.

“O Brasil é o único país do mundo a ter mais de 50% de carros que podem usar biocombustíveis. Hoje a gente está falando em sustentabilidade, estamos falando muito em híbridos e elétricos, mas o biocombustível é uma solução, não vou dizer limpa, mas muito mais limpa do que os combustíveis fósseis. 77% do nosso parque é flex e continua sendo o maior volume de emplacamentos”, comentou Guerinaud.
Ainda que a frota eletrificada represente menos de 2% do parque no Brasil, Guerinaud alertou que o mercado precisa se preparar. “Temos cada vez mais carros alternativos, 100% elétrico ou híbrido. Isso para o reparador e para o mercado em geral é um desafio. Há dez ou quinze anos, quando um carro entrava na oficina, ele tinha 90% de chance de ser de uma das quatro maiores marcas no Brasil. Hoje, essa diversidade maior faz com que o reparador e o distribuidor tenham que ter um estoque muito maior, com maior diversidade”.

Crescimento da frota – Depois de dois anos seguidos de emplacamentos acima de 12%, em 2023 e 2024, Guerinaud falou desaceleração. “Neste ano, o crescimento deve ser de mais ou menos 5% acima do ano passado e vamos chegar a 2,520 milhões de veículos de passeio emplacados. É o quinto maior parque mundial”, ressaltou. O aumento de dois dígitos nos últimos dois anos, segundo ele, está relacionado com a demanda reprimida no período da pandemia.
Diversificação de estoque – Guerinaud comentou os impactos para o mercado com uma frota envelhecendo e crescendo o volume de emplacamentos. “Vocês têm que trabalhar a oferta para os carros mais antigos, são os carros que mais frequentemente vão visitar a oficina, e para os mais novos. Isso significa que hoje vocês têm que ter serviços e peças adaptados para todos esses mercados. Até quando há queda de emplacamentos, ela continua crescendo. Essa é uma tendência que estamos observando no Brasil”, explicou.
Outro indicador é o crescimento do tempo de posse do veículo, de 4,34 anos, em 2025, um aumento de mais de um ano de tempo de posse do carro em relação a 2018. Sendo que 30% têm 5 anos ou mais; 10% têm 4 anos, mesmo percentual de posse para veículos de 3 anos, 13% têm 3 anos e 21%, menos de um 1 ano de posse.

Liderança das oficinas independentes – De um total de R$ 207 milhões de gastos com manutenção em 2024, a oficina independente representou 52% do total, cerca de R$ 107 milhões, e lideram também o mercado com 56% das entradas, enquanto as concessionárias representam 11% do faturamento e 9% das entradas. “Um dos dados mais importantes do comportamento do motorista no Brasil é que, em média, ele vai quase três vezes ao ano na oficina, gasta R$ 744,00 por entrada e, em média, R$ 2.193,00 por ano”, expôs.
Presença no digital – Outra característica peculiar no Brasil é a taxa de conversão. Em 2024, metade dos motoristas afirmou que usa a internet para temas automotivos, mas apenas 14% compraram peças, lubrificantes, pneus ou acessórios online. “O Brasil é o país que tem a menor taxa de conversão entre os países que pesquisamos, mas é o país com a maior proporção de motoristas que pesquisam na internet. É o único país que tem esse perfil. Isso significa que vocês têm que ter presença na internet e, principalmente, alinhamento do preço publicado na internet com o preço praticado nas lojas”, afirmou.
Os desafios na distribuição
Guerinaud também coordenou a mesa redonda, ‘Como a distribuição está evoluindo na América Latina?’, que teve as participações de Cleber Melo, Regional Vehicle Parts & Accesories Specialist do Mercado Livre, Natalie D’Ascanio, diretora-executiva para a América Latina da TEMOT, e Lívia Augusto, diretora IAM (mercado independente) & Sales Admin da General Motors América do Sul.
Natalie falou sobre a informalidade do mercado. “Nós ainda somos um mercado muito informal na América Latina, precisamos formalizar todo o processo empresarial da distribuição. Argentina, México, Chile e Brasil são mercados mais maduros e, consequentemente, mais estruturados, mas quando a gente fala de América Latina, temos muitos países que ainda precisam trabalhar essas questões”, informou.
Elos da cadeia – Sobre os elos da cadeia, ela fez uma comparação. “Aqui na nossa região, de forma geral, a nossa cadeia é mais respeitosa no sentido de ser fábrica, distribuidor, varejo e oficina. Na Europa já não acontece mais isso, então, é um mercado muito mais consolidado. E temos um pouquinho de Estados Unidos aqui com a gente, com o crescimento das redes de varejo. O Brasil está começando a surfar um pouquinho também nessa tendência. O que eu vejo de diferença aqui na América do Sul é que somos bem fragmentados e heterogêneos”, afirmou.
Digitalização – Ela acrescentou que o positivo foi o caminho para a digitalização. “Nós somos multicanais, caminhando para esse modelo mais digitalizado. O que eu vejo de positivo na nossa região é o salto que tivemos na digitalização, no e-commerce, e as vendas por whatsapp, algo que é muito forte na nossa região, porque a gente não vê isso fora, a televenda digitalizada. Então, a nossa economia está emergindo para esse lado digital, o que eu acho positivo”, finalizou.
Desafios logísticos – Melo contou que o grande desafio hoje é a fragmentação do mercado de reposição automotiva e o marketplace como um canal de informação para o consumidor. “A fragmentação do mercado e por consequência a fragmentação de dados tem um grande impacto hoje na evolução do nosso negócio. Outro ponto é o quanto custa entregar um produto.
Imagina como é difícil entregar alguma experiência para o cliente, através da logística, para alguém que não entende nada do produto e tem que pegar uma caixa de motor e entregar para o cliente. E a falta de integração entre eles, o que dificulta muito os dois primeiros pontos que eu passei”, especificou.
Para as montadoras – Do ponto de vista da montadora, Lívia falou que o grande desafio na distribuição é a quantidade de part numbers dos carros, 7 mil peças, em média, para um carro simples, e de até 10 mil, em média, para um carro mais tecnológico. “A GM tem hoje mais de mil pontos de vendas. Como eu conecto meu estoque com o estoque do fornecedor e com o estoque da minha rede esse… é o grande desafio para deixar na mão do nosso cliente final, o motorista, o distribuidor e o reparador independente, com essa visibilidade de encontra a peça que ele precisa, no momento que ele precisa e da melhor forma. Essa inteligência, na minha opinião, é um sonho que o nosso setor ainda não tem, mas que a gente pode copiar alguns que já tenham essa inteligência. O grande desafio de forma geral para todo mundo é a peça certa, na hora certa”, concluiu.
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