Lubrificante paulatinamente perde as suas propriedades (“sofre desgaste”). E como todo mundo sabe: “lubrificante desgastado traz muito mais problemas do que benefícios”
artigo por Fernando Landulfo fotos Arquivo O Mecânico
Há algumas décadas atrás, quando câmbio automático era um acessório raro e caro, as trocas preventivas de fluido e filtro eram realizadas apenas nas concessionárias, nos veículos que realizavam as revisões de fábrica.
Fora da rede autorizada, devido a desinformação (raríssimos eram os especialistas), muitos defendiam a tese de que não se devia substituir o fluido do conjunto. E as justificativas eram as mais variadas: enquanto uns alegavam que o fabricante “não queria” que o fluido fosse trocado, tendo como base a falta do bujão de esgotamento em alguns câmbios, outros defendiam a hipótese de que o fluido novo removeria a “sujeira” que proporcionava vedação e contato adequado entre as embreagens internas.
Um completo absurdo que levou, na época, muitas transmissões a terem as suas vidas encurtadas e o dispositivo, consequentemente, receber o estigma de “bomba”.
A transmissão automática é um dispositivo mecânico que, como qualquer outro, está sujeito aos efeitos do atrito que desgasta as suas peças. O fluido que circula no seu interior é um lubrificante especial que possui duas funções básicas [1]:
- a) Amenizar os efeitos do atrito;
- b) Refrigerar o conjunto;
- c) Manter o conjunto limpo e as impurezas dispersas;
- d) Proteger contra a corrosão;
- e) Atuar como fluido hidráulico (transmitindo torque e manobrando válvulas internas e êmbolos do sistema);
- f) Amortecer vibrações e reduzir
ruídos.
Ou seja, fica submetido a grandes variações de pressão e temperatura, impurezas, umidade, etc. Conclusão: O lubrificante paulatinamente perde as suas propriedades (“sofre desgaste”). E como todo mundo sabe: “lubrificante desgastado traz muito mais problemas do que benefícios”.
Solução: O lubrificante precisa ser substituído.
Mas qual lubrificante usar? Bem, como todo mundo sabe, nos dias de hoje, não se pode utilizar qualquer tipo de fluido em um câmbio automático. O lubrificante apropriado possui características muito especiais.
Os ATF (Automatic Transmission Fluid) são produzidos a partir de óleos básicos, de origem mineral ou sintética. Como deve penetrar em folgas muito pequenas, via de regra, apresentam uma viscosidade bem mais baixa, do que a dos populares lubrificantes para câmbio manual e motor.
Além disso, apresentam uma carga muito alta de aditivos, que lhe confere propriedades muito particulares: intensa proteção anti-desgaste, auto poder limpante e dispersante, alta resistência a pressão, alto índice de viscosidade (baixa variação da viscosidade em função da variação da temperatura) e alta resistência a oxidação (ataque pelo oxigênio presente no ar).
Além de propriedades específicas requeridas por determinados modelos de transmissão (as aprovações de fábrica).
Com a utilização, além esses aditivos tenderem a se exaurir, o fluido fica contaminado por impurezas, tornando necessária a substituição do fluido.
Algo que, a princípio, não deveria ser tema de discussão.
No entanto, o tema se tornou polêmico devido ao aparecimento das transmissões lubrificadas por fluidos denominados “para toda a vida”. Um termo utilizado por algumas montadoras.
Mas quanto é a vida toda? A resposta era: a vida toda do veículo. Um argumento raso, bastante subjetivo e claro: não convincente.
Devido a disseminação das transmissões automáticas, na frota nacional, nos últimos 20 anos, a quantidade de especialistas, por sinal muito bem treinados, no mercado das oficinas independentes, aumentou vertiginosamente.
Profissionais que, associando os seus conhecimentos técnicos as ocorrências do “chão de oficina”, passaram a contestar e essa “vida eterna” dos lubrificantes que, obviamente, não consideravam as condições de “uso severo” dos veículos, típica dos grandes centros urbanos.
E ao consultar diretamente os fabricantes das transmissões, descobriram que o troca do fluido era sim necessária.
Mas que fluido utilizar?
No mercado podem ser encontradas muitas classificações e especificações de ATF. Via de regra, cada montadora e/ou fabricante de câmbio recomenda um produto de especificações próprias, cujo cruzamento com os demais existentes no mercado, é praticamente impossível, sem a ajuda de uma criteriosa e onerosa análise laboratorial.
No entanto, há casos em que, além do produto da marca, o fabricante do sistema recomenda produtos alternativos. Mas que fique bem claro: tais substituições só devem ser feitas mediante aval por escrito do fabricante, na forma de uma instrução de serviço, um boletim técnico, ou qualquer outro documento de caráter oficial.
Não há espaço para invenções!!!!
A aplicação de um fluido inapropriado pode destruir um câmbio. O prejuízo pode ser enorme!!!
E como se faz a troca? Muitos câmbios possuem bujões para drenagem e bocais de enchimento, como qualquer compartimento do automóvel. No entanto, existem casos em que o fluido usado deve ser drenado, mediante a retirada do reservatório (cárter).
E quanto ao filtro?
Sim, o câmbio automático possui um filtro! Na grande maioria das aplicações, em veículos de passeio, o componente fica instalado no interior do cárter do câmbio. O aceso varia de modelo para modelo. Mas há casos específicos em que uma desmontagem de maior porte se faz necessária. A grande maioria dos fabricantes recomenda a troca do filtro por ocasião da troca do ATF.
E as montadoras, mudaram de opinião a respeito da troca preventiva?
Sem citar nomes, ao serem contraditas com as recomendações dos fabricantes dos câmbios, algumas montadoras mudaram de opinião e passaram a recomendar a troca.
Os períodos variam de modelo para modelo, assim como, da forma de utilização do veículo (severo ou não).
Já outras, apesar de insistirem na teoria dos fluidos para a “vida toda”, não costumam recusar a executar a troca, à pedido do cliente, em suas concessionarias.
Mas afinal de contas, quem é que mais entende do câmbio? Quem o projeta e produz, ou quem apenas monta no veículo?
E onde entra o mecânico nesta história toda? Bem, cabe aos “guerreiros das oficinas”: convencer o dono do veículo da importância desse importante procedimento de manutenção preventiva, se preparar tecnicamente para o procedimento (manuais, peças e materiais) e executá-lo com qualidade.
Referências:
[1] CAMBIO AUTOMÁTICO DO BRASIL. A Importância da Troca do Fluido de Transmissão Automática: Informações Essenciais para Proprietários de Veículos. Disponível em:< https://cambioautomaticodobrasil.com.br/blog/a-importancia-da-troca-do-fluido-de-transmissao-automatica-informacoes-essenciais-para-proprietarios-de-veiculos/>. Acesso em 31/03/25.
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